- Marilena Flores Martins¹ -
A busca da felicidade é tão antiga quanto o ser humano. Em suas pesquisas sobre o tema o prêmio Nobel e economista britânico Richard Layer constatou que, embora nas últimas décadas um grande número de pessoas em todo o mundo tenha sido beneficiado por um notável crescimento econômico, dispondo de mais bens materiais e de sistemas educacionais e de saúde melhores, isso não as tornou mais felizes. As estatísticas apontam um número maior de pessoas com depressão, enquanto que outros indicadores de insatisfação, a violência e a criminalidade, estão muito mais elevados tanto nos países desenvolvidos como nos em desenvolvimento.
No Brasil, pesquisas revelam que para muitos pais a prioridade é preparar os filhos para serem profissionais bem-sucedidos como garantia de felicidade. O sucesso escolar é preocupação também de educadores, gestores públicos e setor produtivo. Mesmo justificável, não se pode esquecer que a formação das mentes jovens depende dos primeiros anos de vida e de condições oferecidas pelos pais e apoiadas por leis e políticas públicas que ofereçam oportunidades para o desenvolvimento integral.
A Dra. Iole Cunha, neonatologista, presença nos eventos promovidos pelo Senado Federal a cargo da Comissão de Valorização da Primeira Infância e Cultura da Paz, salienta que o desenvolvimento das competências cerebrais está diretamente relacionado ao tipo de ambiente pós-natal e social onde se insere a criança. Crianças se incluem no mundo cedo, por vínculos criados com seus cuidadores que satisfazem suas necessidades, da alimentação ao afeto/reconhecimento. E experiências continuadas de privação e desamparo podem ser a origem de sérios distúrbios de desenvolvimento.
Com objetivo de disseminar tais estudos, apresentando descobertas científicas a subsidiar políticas públicas voltadas ao tema, conscientizando autoridades, instituições e sociedade civil, o Senado criou a Comissão citada acima, responsável por realizar desde 2008 a Semana de Valorização da Primeira Infância e Cultura da Paz. O tema da VII Semana, a realizar-se de 25 a 27 deste mês, nas dependências do Senado, é “Neurociências e Educação na Primeira Infância: progressos e obstáculos”.
Apoiado por embaixadas, com a vinda de renomados cientistas, o evento cada vez mais adquire porte internacional. Gratuito e aberto ao público, tem foco no Legislativo – deputados e senadores – e gestores públicos, devido à responsabilidade na elaboração de leis que afetam a Primeira Infância e em implantar políticas voltadas às crianças.
A temática da VII edição mostra o cuidado da Comissão em associar as últimas descobertas científicas a um tema já muito discutido, mas ainda sem apresentar bons resultados: educação infantil. Ademais, difundir os progressos e identificar obstáculos na aplicação do conhecimento acumulado para colocá-lo a serviço de responsáveis pela elaboração das leis e de interessados em sua aplicação.
Quanto se fala em sucesso e felicidade, vale pensar em valores como a ética, que precisa ser cultivada, vivenciada e valorizada ou não conseguiremos aprimorar os níveis de desempenho, sequer produzir trabalhadores a gostar do que fazem. Segundo Howard Gardner, consultor de Harvard, as mentes éticas são confiantes e confiáveis, se responsabilizando por suas ações e pelo papel de cidadão contribuinte com o mundo na busca da felicidade; com valores como bondade, honestidade, esperança e alegria em fazer bem feito. Valores que se desenvolvem à luz da Educação de qualidade. Também o brincar será um poderoso aliado na descoberta de si e do mundo, além de contribuir para o desenvolvimento de habilidades e competências fundamentais, podendo ajudar a desenvolver áreas do cérebro responsáveis pelo sentimento de empatia, tão importante no mundo cada vez mais diversificado.
A relação positiva da criança com seus cuidadores, principalmente a mãe, é fator decisivo no Apego, portanto, apoio à gestante e à mãe reflete na qualidade dos vínculos criados entre eles. Bons programas de intervenção e educação reduzem riscos de comportamentos agressivos persistentes na Primeira Infância e desvios de comportamento na adolescência e fase adulta. Tecnologia e Ciência deverão ser instrumentos para melhor qualidade de vida. Contribuir efetivamente para o surgimento de indivíduos mais felizes se refletirá em melhor desempenho profissional, familiar e social. Eis a raiz do sucesso!
1 - Marilena Flores Martins é membro da IPA Internacional, coordenadora do GT do Brincar na Rede Nacional Primeira Infância-RNPI, atuou em saúde mental de crianças e adolescentes por 27 anos e autora de vários livros, entre eles Guia “Brincar é Preciso”.
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