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BRINCAR como CONSTRUÇÃO SOCIAL

Géssica Ap. P. dos Santos




Quando as crianças brincam

E eu as ouço brincar,

Qualquer coisa em minha alma

Começa a se alegrar.

E toda aquela infância

Que não tive me vem,

Numa onda de alegria

Que não foi de ninguém.

Se quem fui é enigma,

E quem serei visão,

Quem sou ao menos sinta

Isto no coração. ” (Fernando Pessoa.)


Brincar é uma necessidade do ser humano. Prática que, de acordo com o tempo histórico e a cultura em que está inserida, se transforma e recebe diferentes significados seja na dança, na pintura, nos jogos ou nas brincadeiras tradicionais. O lúdico sempre se fez presente na vida do ser humano, porém sua importância para o desenvolvimento nem sempre foi valorizada. As pesquisas realizadas no âmbito da psicologia e da educação contribuíram para que o brincar se estabelecesse como prática essencial para o desenvolvimento infantil e passasse a ser valorizada tanto na família quanto na escola.


O Referencial Nacional Curricular Para a Educação Infantil (1998), destaca o brincar como um direito fundamental da criança e pontua a necessidade de proporcionar experiências diversas e ricas a fim de que sua capacidade criativa seja exercitada. Vale salientar a abordagem do tema, também, na Constituição Federal de 1998, bem como o estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) que expõe o direito de se expressar e experienciar a brincadeira. O Marco Legal da Primeira Infância de 2016 atribui a responsabilidade à União, aos Distritos e Municípios a criação de espaços lúdicos que proporcionem lazer em que criança possa exercer sua criatividade.

Além da políticas públicas que asseguram o direito da criança em todos os setores como saúde, educação e lazer, faz-se necessário, também, a participação da comunidade tanto na tomada de decisão a respeito o que é essencial para seu desenvolvimento, quanto na participação de eventos e ações que valorizem a participação da criança. Segundo Almeida (2014), as atividades lúdicas promovem o desenvolvimento afetivo, físico, intelectual e social da criança uma vez que possibilita a expressão oral e corporal, contribui para o autoconhecimento e as relações sociais entre os pares e permite a vivência das práticas estabelecidas socialmente.

A brincadeira é resultado da imitação da realidade vivenciada pelos sujeitos, uma vez

que ao brincar a criança se apropria da realidade e a ressignifica, pois ela vai construindo uma articulação entre o real e o imaginário, os objeto que outrora exerciam uma função podem, durante a brincadeira, assumir um novo papel que corresponderá ao que foi estabelecido pelo brincante. (Queiroz, 2006).


“A brincadeira é de fundamental importância para o desenvolvimento infantil na medida em que a criança pode transformar e produzir novos significados. Em situações dela bem pequena, bastante estimulada, é possível observar que rompe com a relação de subordinação ao objeto, atribuindo-lhe um novo significado, o que expressa seu caráter ativo, no curso de seu próprio desenvolvimento.” (Queiroz, p. 172, 2006).

O domínio da linguagem simbólica dos objetos na brincadeira se estabelece de maneira gradual, de acordo com o desenvolvimento da criança. Assim estabelece relação que não a literal com os objetos ao seu redor, construindo o imaginário e aumentando o seu repertório cultural e corporal. As crianças se transformam partir do contato com o outro, os conhecimentos que possuem, assim em uma brincadeira de faz de conta assumir o papel de um determinado personagem a ajuda a compreender as características e a função social que ele exerce, seja um vilão, ou ainda uma princesa.

Segundo Queiroz (2006), em uma perspectiva co-construtivista, a criança desde os primeiros anos de vida está imersa a uma cultura e, portanto, a diversos significados que foram se estabelecendo historicamente, dessa forma, é na interação com o outro que esta irá re-significar tais construções e construir ativamente a noção de si, do outro e dos objetos. A imaginação é o ponto crucial que permite que a brincadeira aconteça, assim como a realidade que vai proporcionar elementos culturalmente construído para que seja recriada de forma a atender aos anseios da criança.






Poesias. Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995).

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