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Brincar constitui valor ao aprendizado

  • Foto do escritor: IPA Brasil
    IPA Brasil
  • 28 de mai. de 2019
  • 6 min de leitura

- Bianca Silva Gomes Panhoti -



O brincar entra em nossas vidas desde o momento em que abrimos os olhos, e nos entretemos com os estímulos que nos circundam e que nos chamam atenção, tornando-se presente em todos os momentos de nossa vida, trazem a experiência da concentração de esforços, de estado de presença absoluta, de descontração e assim acabam por ensinar, resgatar, integrar, desenvolver e até mesmo salvar.

Minha infância relaciona-se muito com as diferentes formas de brincar, sendo das mais integradas e livres até as mais resguardadas e individuais, isso decorrente de diversas fases em decorrência da idade, circunstâncias familiares e ambientes.

Durante os primeiros anos a brincadeira se dava muito no âmbito familiar, tendo uma boa relação com o uma mãe pedagoga que sempre brincou junto e incentivou a criatividade, leitura, exploração e experiências mais artesanais relacionadas à costura por meio de criação de roupas para bonecas e itens para demais brincadeiras.

Ainda nessa fase é importante mencionar que tive bastante influências de uma irmã 8 anos mais velha que eu, a qual sempre me inspirou e ao mesmo tempo me exclui das brincadeiras dela e das amigas, fazendo com que sempre eu tivesse interesse por algo mais maduro do que para a minha idade, despertando o meu interesse para a dança, música, desenho e escrita, cabe aqui salientar que devo a ela meu interesse ainda vivo por desenhar.

A presença de primos também sempre foi muito importante para o brincar em minha vida. Eles eram sempre representados pelas férias, pois são todos de Minas e essa era a viagem padrão para todas as férias nessa época. A brincadeira não era tão livre como eu gostaria (a menos nos dias de ir para o sítio de uma das minhas tias), o brincar acontecia sempre em praças por perto das casas dos avós, sob a monitoria dos pais ou nos quintais das casas, mais nada disso impedia que o divertimento fosse completo. Era muito faz de conta, cirandas, brincadeiras tradicionais, trava-línguas, cantigas, invenção de histórias e jogos de tabuleiro.


Um pouco mais crescida e por morar em uma rua sem saída, as brincadeiras começaram a tomar também o espaço da rua. Não me esqueço nunca o sentimento de liberdade e independência que me foi auferido na primeira vez em que me convidaram para andar de bicicleta na rua com as outras crianças e a minha mãe permitiu, foi como uma conquista imensa na vida, uma emoção que não cabia no sorriso de quem saí pela rua sozinha aos 8 anos pela primeira vez.

Nessa fase as brincadeiras se tornaram ainda mais corporalmente práticas e que desenvolveram melhor a minha habilidade motora, entraram no âmbito das preferidas, a corda, o patins, taco, pega-pegas, patinete e bicicleta. Sempre junto a essas brincadeiras era incorporado um faz de conta diferente, como por exemplo, sereias que nadavam (ou andavam de bicicleta), sempre com uma missão diferente.

Ainda nesse período já havia nascido o meu irmão mais novo e com ele as minhas brincadeiras e brinquedos favoritos foram aos poucos se modificando e tornando cada vez mais compartilhados.


Assim as bonecas passaram a sofrer acidentes em caminhões ou carrinhos, ocorreram remakes de filmes da Disney, como o filme Carros, o qual recontávamos a história do filme com as pistas e carrinhos Hot Wheels, a casa de bonecas se tornou o lugar dos caça monstros atuarem, os colchões viraram tatames para acrobacias, os tecidos que em outrora eram utilizados para roupas de bonecos se tornaram capas, luvas e máscaras de super heróis e em meio a todas essas transformações e ressignificações, digo que o momento de brincar se tornou muito mais divertido e completo.

Um pouco mais tarde, na entrada do período da pré-adolescência a molecagem e a rua foram sendo deixados um pouco de lado e tomaram frente de meu entretenimento a leitura, a dança e a música, me resguardando do contato com os outros, começaram-se os dias de fone de ouvido e pernas para o ar trancada no quarto, como se fosse um retiro para a reposição de energias, onde ali se encontrava a minha presença absoluta.

Durante essa fase o meu irmão sentiu muito a minha falta nas brincadeiras, hoje consigo compreender isso, mas na época ouvir suas reclamações eram um aborrecimento. Algumas vezes durante as férias eu retomava o meu vínculo brincante com meu irmão por meio de filmes, desenhos animados e séries, sobretudo da Disney, que passávamos tardes assistindo e brincando em meio aos comerciais com algum faz de conta relacionado ao que assistíamos.

No decorrer da adolescência os jogos de papel e caneta como o stop e jogo futuro eram os que tomavam conta, além disso, o faz de conta continuava, sendo trocado somente o assunto, agora por séries e filmes da “moda” como High School Musical e Camp Rock.

Ao fim da adolescência, por volta dos 16 anos comecei a trabalhar como monitora em um Buffet infantil, sendo que nessa fase tive a chance de retomar algumas brincadeiras bem infantis, como ir aos brinquedos que faziam parte daquele espaço, não somente eu, mais também os outros adolescentes que ali trabalhavam adoravam o momento antes da festa em que tínhamos a oportunidade de resgatar a criança pequena dentro de nós mesmos e isso era especial demais.

Iniciando a escolha e de uma carreira a se seguir na vida profissional eu acreditava que a minha escola era fazer Direito e me tornar uma renomada advogada, até porque era o que a maioria da família esperava, comecei então a me sobrecarregar nos estudos, não sobrando muito tempo para lazer, fiz técnico em Serviços Jurídicos na ETEC Jorge Street, me formei entrei para a área, prestei o Enem para ingressar em uma universidade federal.

Para o desenrolar dessa parte passei na UFMG e não pude, na verdade não consegui ir por dois motivos, um por um problema sério de saúde o qual minha mãe enfrentou justo nessa época e também por não estar satisfeita conhecendo mais a fundo a área, pois nessa época já era auxiliar administrativa em um escritório de advocacia e me desanimava várias vezes com diversas coisas da área, foi então quando me senti perdida e sem saber qual caminho seguir.

Em meio a essas tempestades da vida fiz terapia e nelas descobri que precisava resgatar algo muito importante em mim e que talvez eu quisesse vivenciar isso no meu dia a dia, na minha rotina, no meu trabalho, foi quando me deparei com a Pedagogia.

Cogitei realizar diversos cursos diferentes, que não fossem motivo de desgosto e reprovação por parte da família, mas em meio a comentários duros e desanimadores resolvi seguir pelo caminho da educação por acreditar que ela é o maior instrumento de mudança para o mundo, mas também pela minha crença de que seria certo que havia algum “método” que tornasse menos violento o processo escolar para as crianças (me refiro aqui por violento, por já ter tido a experiência de professores apostilados e que tudo resolviam na base dos gritos), eu acreditava que sinceramente conseguiria fazer diferente e que o lúdico tinha que ajudar a criança nesse processo.

Foi então na Faculdade de Educação da USP onde fui de encontro realmente ao que o meu lado intuitivo falava, conheci vários e ótimos professores que abriram os meus horizontes para conectar a brincadeira, os jogos nas sequências didáticas, além de conhecer vários autores que traduzem bastante o processo de desenvolvimento da criança e me fizeram entender o quanto o brincar se faz parte de tudo isso.

Na minha atuação profissional como professora auxiliar tive a honra de sempre conseguir emprego em escolas que seguem o modelo construtivista de educação, que consideram a criança um sujeito completo e ativo na construção de seu conhecimento, sendo assim possível manter e colocar em prática os meus ideais acerca da educação.

Acredito muito nessa ideia de que a criança constrói o seu conhecimento e tudo isso devido ao seu interesse (onde há interesse, há aprendizagem).

E qual é o agente impulsionador do interesse da criança?

As brincadeiras, brinquedos e tudo aquilo que pode envolver ludicidade que consiga capturar o interesse da criança.

Do ponto de vista do psicólogo russo, Alexei Nikolaevich Leontiev, acerca do significado do brincar para a criança. Para Leontiev (1998), o brincar é a atividade principal da criança, aquela em conexão com a qual ocorrem as mais significativas mudanças no desenvolvimento psíquico do sujeito e na qual se desenvolvem os processos psicológicos que preparam o caminho da transição da criança em direção a um novo e mais elevado nível de desenvolvimento. A atividade da criança não a conduz a um resultado de modo que satisfaça suas reais necessidades. O motivo que a conduz a determinada ação é, na verdade, o conteúdo do processo real da atividade. Como um exemplo disso, podemos citar uma criança construindo com pequenos blocos de madeira. O alvo da brincadeira não consiste em chegar a um resultado final como montar uma pequena cidade com todos os detalhes que a caracterizam como tal, e sim no próprio conteúdo da ação, no “fazer” da atividade.

Referências Bibliográficas:


O brincar na psicologia de Leontiev: o jogo como atividade e suas contribuições à educação infantil. Disponível em: <http://educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2013/8147_5548.pdf> Acessado em: 28 de novembro de 2018.

Teóricos sobre educação e ideias sobre o brincar. Disponível em: <https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/educacao/teoricos-sobre-educacao-e-ideias-sobre-o-brincar/26050> Acessado em: 6 de dezembro de 2018.


 
 
 

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