- Aline Lima -
“Cirandeira, cirandeira
Venha pra cá
Venha formar a roda,
cirandeira
Vamos todos cirandar
Oh cirandeira!”
Desde 2007 proponho atividades que permeiam o universo da cultura popular brasileira. Tive uma infância de muita brincadeira, conheci mestres e mestras populares que me deram a oportunidade de aprender, e acender a chama desses saberes em mim.
A primeira vez que dancei uma ciranda foi na praia da Ilha do Mel, momento histórico, depois daquela viagem a ciranda permaneceu presente na minha vida, tamanho foi o impacto! Junto com ela veio o gosto e a vontade de estar em grupos, de cantar, improvisar, tocar, compartilhar experiências e vivenciar a alegria da arte do encontro que senti naquela ciranda.
Em 2009 comecei um trabalho com idosos na periferia de São Paulo, e para o meu encantamento esse público enriqueceu a minha percepção de como fazer, de como propor as atividades. Eles já sabem muito! Então, trazer o que eles sabiam, foi o caminho. Logo foram aparecendo letras de músicas, versos, poesias, entusiasmos, animação, e muita contribuição que potencializou o trabalho.
Entre 2018 e 2019 percorri vários núcleos de convivência de idosos na Capital de São Paulo, através do projeto Guardiões do Brincar, da IPA Brasil. Em sua maioria a receptividade dos idosos para com as brincadeiras, músicas e danças populares foram muito parecidas com as que eu já conhecia: lembrança da infância, versos que estavam na memória, contos e histórias vivenciadas ou inventadas na juventude, e das festas populares. Os idosos permitiram-se brincar, experienciar os jogos corporais dançantes aliados aos ritmos brasileiros (forró, coco de roda, e cirandas), exercitando o corpo e a mente, em um processo espontâneo (brincando), descobrindo potencialidades adormecidas, interagindo com o outro e contribuindo com o andamento do grupo, socializando-se.
As danças e músicas brasileiras têm seus princípios nos rituais de celebrações dos povos antigos (época da colheita, de funeral, recreação, ou adoração aos deuses); é hoje o que ficou de mais presente das festas populares tradicionais (Bumba meu boi, Carnaval, Festas Juninas…), que ainda acontecem em algumas regiões do Brasil (Matos, 2006). Tais movimentos e ritmos inspiraram as brincadeiras cantadas e dançadas (cirandas), realizadas pelas crianças,
com letras que remetem a sistemas de trabalhos, e de necessidades básicas da vida humana. É importante lembrar que o brincar para os idosos é diferente do brincar para as crianças, para estas situam-se em fase de descobrir o mundo, enquanto os mais velhos estão revendo, ressignificando, portanto, não devem conter caráter infantilizado, respeitando seu papel social (Matos, 2006).
“Meu limão, meu limoeiro
Meu pé de Jacarandá
Uma vez tindo lele
Outra vez, tindo lala”
A importância do convívio social na terceira idade minimiza os efeitos negativos do envelhecimento, pois estimula as atividades físicas e cognitivas, além de satisfazer uma necessidade imaterial, mas de prazer e afetividade (Matos, 2006). Os médicos já as recomendam há algum tempo, como mostra o projeto Arts on Prescription, iniciado em 1995 no Reino Unido, onde os idosos eram encaminhados para uma série de atividades em grupo, como complemento dos tratamentos convencionais (Poulos et.al., 2018).
Dançar está entre os processos classificados como bem sucedido, para o envelhecimento saudável (Maia et. al. 2020). Além de proporcionar movimento ao corpo, cuida da mente promovendo bem estar.
Garantir o direito de uma boa velhice está na Lei 10.741 (Estatuto do Idoso), sabendo que a população idosa tende a aumentar no Brasil segundo o IBGE, de 43,19%, em 2018, para 173,47%, em 2060, mostra-se de suma importância ações que apontam o caminho para o envelhecimento saudável.
E em tempos de pandemia por Covid-19, o que fazer?
REFERENCIAS
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