- MÁRCIA APARECIDA CAMPOS -
Trabalhando em um centro de crianças e adolescentes de 6 a 14 anos e 11 meses, tenho aprendido e aplicado muito o momento de brincar. E tenho estudado bastante para me tornar de verdade uma defensora desse direito, para que onde eu estiver consiga garantir que a criança brinque, em segurança e livremente.
O Brincar e a infância
Desde que me entendo por gente eu brinco muito, principalmente na rua. Bicicleta, pega pega, esconde esconde, damas, cantigas de roda, amarelinha, boneca de papel e a preferida queimada. Calça rasgada, roupa suja de barro, joelhos e cotovelos ralados, ah como era maravilhoso, chamava um amigo, outra amiga, e outro e outra juntava a turma na calçada, fazia vaquinha para comprar uma pizza para dividir com “todo mundo”. A minha mãe gritava “já esta tarde” e a brincadeira acabava, mas no outro dia estávamos no mesmo lugar e horário, prontos para a brincadeira escolhida. Minha infância passou tão rápido, daria tudo para voltar ao passado, e brincar tudo outra vez. Vamos brincar? Eu escolho a brincadeira ok?
Queimada - Duas equipes uma de cada lado, uma bola de borracha, “posso escolher meu time?” Beleza então. Continuando... uma pessoa começa como coveiro e o primeiro que for queimo troca com ela, lá na área do coveiro se você foi queimo a sua primeira jogada não queima, depois você pode arrebentar. Ah já ia esquecendo cabeça e mão são frias. Equipe adversária eliminada... ganhamos!
Se eu soubesse na época de algum lugar com times profissionais de queimada eu com certeza seria uma atleta. Queimado, Baleado, Carimba, Barra bola, eita brincadeira legal.
Mesmo brincando na infância eu tinha responsabilidades, cuidar da irmã mais nova, não me machucar gravemente (mesmo assim quebrei o braço esquerdo), estar em frente de casa no horário que a minha mãe chegava do trabalho, e antes de ir para rua arrumar a casa.
Criança precisa brincar, alias todo mundo precisa. No artigo 16, parágrafo IV do Estatuto da Criança e Adolescente diz: “O direito a liberdade compreende os seguintes aspectos: brincar, praticar esportes e divertir-se”. Estou no caminho certo, pois tudo isso eu promovo, porém nem sempre encontramos essa pratica nas escolas, organizações, e espaços públicos ou privados. Podemos brincar de outra coisa?
Está chovendo, vamos para a garagem lá de casa, vamos precisar apenas de tesoura e revistas velhas. Ah esqueci de falar vamos brincar de boneca de papel. Como se brinca? La vai! Primeiro vamos montar nossa casa, recortando das revistas de decoração as paginas que tem sala, cozinha, banheiro, cada um monta a sua, depois das revistas de moda vamos recortar mulheres, crianças, homens, com roupas de sair e moda praia. E vamos também recortar das revistas de auto os nossos carros. Pronto, agora é só começar a brincadeira.
A chuva passou vamos brincar de pega pega? Bora!
Na escola o pega pega era muito normal, principalmente na hora do recreio, não precisava de material apenas dos colegas. Até hoje eu brinco, como aquecimento para as minhas aulas, geralmente eu começo como pegadora, pego alguém para me ajudar e como resultado todos aquecidos e prontos para as atividades. Esqueci de falar, sou professora de Educação física.
Convencer os professores da importância do brincar na escola é uma missão muito difícil, pois a maioria dos educadores tem certa oposição entre brincar e estudar: alguns educadores das séries iniciais recusam-se a admitir sua responsabilidade pedagógica e promovem o brincar; já os educadores das demais séries de ensino promovem o estudar.
“Não há como vencer uma brincadeira. Ela simplesmente acontece e segue se desenvolvendo enquanto houver motivação e interesse por ela.” (CAVALLARI, 2008)
“Brincar com as crianças não é perder tempo, é ganhá-lo. Se é triste ver meninos sem escola, mais triste ainda é vê-los enfileirados em salas sem ar, com exercícios estéreis, sem valor para a formação do homem.” (Carlos Drummond de Andrade)
Brincar segundo o dicionário Michaelis (2018) é divertir se com jogos infantis; entreter-se com objetos ou atividades lúdicas; simular situações da vida real; distrair-se, folgar.
O Brincar e a escolha da profissão
Um belo dia uma amiga me indicou para um estagio em recreação no SESI Vila Leopoldina. Foi nesse momento que entendi que a Educação Física era o que eu queria para a minha vida.
O estagio consistia em fazer atividades recreativas para crianças que moravam nos prédios do entorno do SESI, foi um grande desafio, pois aquelas crianças estavam acostumadas com o vídeo game, suas brinquedotecas de seus condomínios e suas babás para tomar conta.
Super férias era o nome, foi tão maravilhoso, dançamos, corremos, brincamos, de pega pega, fuga de alcatraz, cine pipoca, teatro, show de talentos, pena que passou tão rápido.
Ainda no período de faculdade consegui outro estagio, Recreio na Férias da Prefeitura de São Paulo, publico da periferia, totalmente diferente do outro, mais uma experiência que tive, com uma lição importante, criança brinca, sempre, seja lá qual for a sua classe social, cor, região e até religião, basta que estejamos dispostos a brincar com eles, quanta coisa eu aprendi.
O ano era 2012, resolvi não fazer o bacharel, porém mais uma vez aquela mesma amiga que me indicou no SESI, acabou por me indicar no Sesc, fiz a entrevista, entreguei nas mão de Deus e o resultado foi “tan tan tan tan...” passei, vivenciei todo tipo de esporte, recreação, brincadeiras e experiências que nunca tinha passado na vida, experiência esta que levo para a vida. E conclui com sucesso o bacharel.
Enfim formada, fiz amigos para a vida, experiências maravilhosas e muito aprendizado, chegamos até a montar um projeto para o bairro só de recreação.
Não contei antes, mas na época em que estava no segundo grau, atual ensino médio, meu professor de educação física me deu um apito, e disse: “Não seja uma professora meia boca, seja uma ótima professora”.
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