- Lenize Cristina Riga -
Eis que me encontro na segunda vez tentando comprimir em palavras o que em vivências fui descobrindo ser um agente do brincar... Antes de pensar na importância do agente, acho que temos que pensar no papel que o brincar tem em nossa sociedade que ultimamente só volta para as crianças os olhares em torno do desempenho escolar, que futuramente se resumirá a um retorno financeiro.
Quantas escolas que ao invés de ter um momento para o brincar, para o entreter, conviver, descobrir junto, tem apenas atividades impressas voltadas a aquisição de conhecimentos científicos que muitas vezes não agregarão o mais se apresenta necessário a vida das crianças naquele momento?
Eu pude ver de perto algumas práticas assim, que viam o brincar como o ócio improdutivo e que via naqueles que brincavam um ato de não-trabalho e de desmazelo. Portanto, eu que gostava de brincar logo não me dei bem nesta escola em que estava e fui mandada embora.
Dentro de mim a brincadeira sempre esteve viva! Brinquei muito quando criança com o meu pai quando nasci, com meu irmão quando ele nasceu e queríamos nos refugiar da ausência dos brinquedos que não tínhamos, com os primos em Minas Gerais que com simplicidade nos ensinavam a ser criança na terra, de pé sujo, cabelos molhados de chuva e fome de leão. Acredito que a brincadeira foi o que me forneceu a vontade de viver alegremente até hoje, procurando as coisas mais belas para o deleite de meus olhos e distribuindo sorrisos sempre que me fosse possível.
Ao encontrar um espaço onde eu tive mais liberdade para brincar, na Prefeitura de São Paulo, não pude deixar a oportunidade passar. Confesso que a princípio vi a brincadeira como um recurso para preencher os espaços vazios do meu dia, mas em dado momento percebi que ela era muito mais do que isso, pois meus alunos passaram a responder tão positivamente aos nossos momentos de brincadeira que a convivência que em tantos dias beiravam ao insuportável, passou a ser tranquila e ter um clima de colaboração muito grande entre eu e as outras 30 crianças que me acompanhavam diariamente. Hoje olhando para aqueles momentos, posso perceber o quanto fazíamos naqueles momentos de “ócio produtivo”.
As crianças tiveram a oportunidade de experimentar o que era ser criança, sentir na pele brilhando no sol o que é ser livre para correr, gritar, conversar, imaginar...
Ao fazer o curso de agentes do brincar, me encantei com a proposta de ocupação dos espaços públicos, foi algo que nunca questionei, apesar de sempre criticar o não brincar escolar, não pensava nos demais espaço para brincar, que na verdade pode ser qualquer espaço.
Outra coisa que me encanta mas que ainda requer de mim mais aprofundamento, é a disseminação da nossa cultura através do brincar, as cantigas, as regionalidades, eu acho isso fantástico! Quero conhecer mais!
Acho que isso faz com que nós tomemos ciência de quem somos, nós brasileiros com todas as brasilidades que nos cerceiam. No momento tão global que vivemos, acho importante auxiliar na construção de uma identidade brasileira.
Poxa, os agentes do brincar são tão importantes que não sei nem por onde começar a dizer qual a sua importância, uma vez que apresenta tantas coisas boas. Mas o mais importante de tudo, acho que ele faz com cada um de nós despertemos o senso de olhar com mais carinho, com mais cuidado para os espaços, para as pessoas, para as possibilidades, para as mediações (seja ela qual for).
Depois que comecei o curso passei a olhar para as pessoas de uma maneira diferente, com mais carinho, querendo conhecer mais, me aprofundar mais em cada um, por conta de conviver com pessoas tão maravilhosas, abertas e incríveis aos sábados. Eu queria abraçar cada um e dizer o quanto eles foram importantes para mim neste período, me auxiliando no resgate de uma humanidade que estava ficando perdida no meio da correria do dia a dia, mas sou tímida para isso...
Agora, quando o curso chegou ao fim, vi o quanto o brincar pode ser terapêutico também, aproximando as pessoas e distanciando os conflitos. A importância do agente do brincar acredito ser muito particular e único para cada uma das pessoas, mas acho que eles estão ai para isso, para modificar: realidades, possibilidades, brincadeiras, crianças, adultos, espaços, propostas, mediações, objetos, brinquedos, vertentes, diretrizes, mundos, olhares...
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