- ÍRIS SALLES DE OLIVEIRA -
Os brinquedos estão inseridos em todas as fases das nossas vidas, quando somos bebê brincamos com nosso próprio corpo (mãos e pés), posteriormente somos apresentados a brinquedos que estimulam nossos sentidos e coordenação como exemplo os chocalhos, móbiles, brinquedos sonoros, brinquedos com cores e texturas diferentes, blocos de encaixe com formas geométricas, entre outros. Podemos dizer assim que desde muito pequenos somos acompanhados pelos brinquedos e pelo brincar.
Os jogos e os brinquedos assumem um papel importante na educação infantil e no ensino fundamental I, onde os espaços escolares são organizados para o ensino interdisciplinar através do lúdico. No entanto, o ensino fundamental II e o Ensino Médio não se têm mais as brincadeiras e o brinquedo como método de ensino- aprendizagem, e os jogos ficam apenas nas aulas de Educação Física e Arte.
O rompimento com o lúdico nessas séries cria uma separação dos métodos de ensino para crianças e adolescentes/adultos, pois, tudo que estiver relacionado a brinquedos e brincadeiras passa a ser um método de ensino exclusivamente para crianças, e os métodos tradicionais como aulas expositivas, avaliações, questionários, entre outros passa a ser método de ensino para adolescentes, jovens e adultos. Ignorando o fato que o nosso próprio corpo é um brinquedo, que podemos explorá-lo e que os brinquedos nos acompanham de bebe até a fase adulta.
Quando se fala de ensino através de brincadeiras, não se pode esquecer a imaginação, a criatividade, processo de criação, temas e conteúdos escolares que podem ser inseridos nessas brincadeiras e o que o brinquedo representa naquele contexto para quem brinca. Assim, esse método pode perfeitamente ser aplicado nos Ensinos Fundamental II, Médio e EJA, com conteúdos adequados para cada série, considerando o conhecimento e as experiências dos alunos.
Uma determinada brincadeira pode ser aplicada para diversas séries que obterá resultados diferentes, pois o desenvolvimento cognitivo de cada aluno é diferente. Por isso um brinquedo jamais poderá ser explicado unicamente pela visão da criança ou do adulto (BENJAMIN, 1984). Uma vez que trará para aquela brincadeira suas experiências no espaço vivido.
Tal conhecimento obtido através de simples brincadeiras como: a brincadeira do “faz de conta”, pode revelar a realidade da criança; realidade essa que em uma aula tradicional expositiva certamente não seria revelada. Essa metodologia de ensino pode ser trabalhada em todas as disciplinas, aqui daremos alguns exemplos de como podem ser abordadas nas conteúdos de Geografia.
Já temos o conhecimento das dificuldades de ensino em grande parte das escolas públicas, principalmente no que desrespeita a falta de recursos. No entanto, enquanto educadores, não podemos nos deixar “domesticar” pela precariedade e deixar de utilizar outros meios para o preparo de nossas aulas e pleno desenvolvimento de nossos alunos. Ao nos referirmos as dificuldades do ensino de Geografia, nos deparamos principalmente com a carência na ciência cartográfica. Em muitos casos o próprio professor de geografia não possui o conhecimento em cartografia, assim não pode transmiti-lo, porém existem ocasiões em que o professor detém o conhecimento, mas não consegue repassá-lo, porque os alunos dos Ensinos Fundamental II e Médio não possuem conhecimentos prévios do assunto e não conseguem desenvolver.
Acreditamos que essas dificuldades de aprendizagem começam a surgir a partir do rompimento com o ensino lúdico, uma vez que os alunos dessas séries não são mais estimulados a se desenvolverem e se explicarem através de expressões artísticas e práticas lúdicas. O corpo deixa de ser linguagem, e definitivamente brincadeira passa a ser “coisa” de criança.
Para o ensino de Geografia Regional pensamos em trabalhar com brincadeiras regionais, pois, cada região reserva comidas, danças, músicas, sotaques típicos, essa cultura regional não é diferente quando se trata de brincadeiras, essas trazem consigo características culturais, políticas e econômicas diferentes da nossa e que podem ser facilmente percebidas pelos
alunos. Destacamos aqui as brincadeiras com argila que são comuns em determinadas regiões e incomum em outras até mesmo pela dificuldade em encontrar esse material em abundância. Temos ainda os brinquedos que possuem nomes diferentes dependendo da região, como a boneca de pano também conhecida como bruxa.
No ensino de Geografia física, podemos fazer brincadeiras em espaços abertos em contato com a natureza, como caça ao tesouro, fotografia e desenhos para que seja feita análise de tipos de rochas encontradas, perfis de solo, vegetação e insetos típicos, processos de erosão e sedimentação etc.
Já no ensino de Cartografia, apontamos a relevância de trabalhar com diferentes tipos de mapas (políticos, físicos, temáticos etc) em sala de aula expondo-os no chão ao invés de colocá-los na lousa ou parede como é de costume, e para o auxilio do ensino das coordenadas geográficas podemos utilizar de brincadeiras como batalha naval.
Ressaltamos ainda as brincadeiras influenciadas pelas estações do ano chamadas de sazonais, e os brinquedos tradicionais que recebem uma “roupagem” moderna como ex. pião/ bayblade e outros brinquedos que se transformam ao longo do tempo. Essa diversidade que encontramos nos brinquedos e no brincar podem nos auxiliar com o ensino de diferentes conteúdos escolares.
Sabemos que as brincadeiras e os brinquedos não têm obrigatoriedade de ensinar e transmitir conhecimento. No entanto, acreditamos que o brincar em sala de aula pode auxiliar o ensino dos conteúdos escolares deixando-os menos densos e difíceis de serem compreendidos, tornando-os mais atrativos e mais próximos da realidade dos alunos. Acreditamos que o brincar deveria fazer parte da formação de todos os educadores, para que pudessem compreender a importância do brincar para o desenvolvimento de todos os cidadãos.
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