- Valéria Roberta Rodrigues Silva -
O brincar para o processo de desenvolvimento da criança é muito importante, e também ajuda para que ela possa se tornar um adulto muito mais feliz. Preciso pensar muito nessa questão do brincar e do ser brincante em relação a nossas crianças, precisamos ensinar brincadeiras e cantigas populares que são muito importantes e enriquecedor, pois temos uma cultura tão rica e diversificada como a brasileira mostrar as crianças nossas danças, nossa música, nosso folclore, comidas típicas, festas e sotaques isso fará delas cidadãos que conhecem e sabem lidar com as diferenças de seu povo. O brincar não significa apenas diversão, é a forma que a criança conhece a cultura do meio em que vive se comunica consigo mesma e o mundo. A cultura é algo peculiar, relativo às atividades humanas, produções, formas de expressão, comportamento e instituições sociais gerados, processados e formatados por um tempo particular (Mouritzen, 1998).
O brincar é uma possibilidade de manifestação, é a linguagem universal das infâncias, da cultura humana. Temos deixado essa cultura desaparecer, porque vivemos um momento de repressão do brincar com nossa correria cotidiana. Mas, a partir do momento que libertarmos a criança aprisionada dentro de nós poderemos retomar a conexão com nossos filhos trazendo mais sentido para nossas vidas, carregando de afeto nosso dia-dia e nos constituindo como sujeitos capazes de estabelecer relações.
Precisamos olhar mais para nossas crianças, com o tempo corrido tudo cronometrado no relógio, na escola há mais atividades extracurriculares estamos esquecendo-se de mostrar para nossas crianças como o brincar é maravilhoso e divertido.
É necessário que possamos refletir sobre a fragilidade dos vínculos de relação com as pessoas, estamos ocupados demais, praticamente o tempo todo e acabamos não dando a devida importância à criança. Basta observar alguns minutos para que possamos perceber nossas crianças muito sozinhas, privadas das relações, da riqueza do brincar e da beleza que a vida contém, se olhamos mais atentamente, vamos constatar que nós também ficamos sozinhos em meio à multidão. A rotina é feita das atividades realizadas no dia-a-dia, e nela predominam determinados modos de comportamento que são sustentados pela confiança e pela certeza de que a realidade é o que aparenta ser. Sendo assim, o cotidiano manifesta-se como um campo de rituais. Ritos que preservam a continuidade do vivido, que acomodam as contradições entre passado e presente e que fixam eventos, transformando-os de estruturas diacrônicas para sincrônicas (Agamben, 2005, p. 83).
Precisamos participar mais da vida de nossas crianças, e permitir que elas sejam presença em nossas vidas. Quando brincamos com a criança possibilitamos a ela dar forma as suas ideias, fantasias, medos, enfim estabelecemos a possibilidade de compreensão do cotidiano de forma lúdica. Isso é essencial para a construção da identidade do sujeito, que brincando experimenta a vida que o cerca. De maneira vivencial quem brinca explora uma diversidade infinita de possibilidade de compreensão do cotidiano de forma lúdica. A brincadeira explora uma diversidade infinita de possibilidades, emoções e sensações, constrói laços de cumplicidade com quem está com ela dando sentido a essa experiência. O brincar, seja do ponto de vista social seja do individual, não é uma atividade secundária no desenvolvimento infantil, ao contrário, é ela que fornece os principais meios para as articulações entre desenvolvimento pessoal e sócio-histórico.(PEREIRA; AMPARO; ALMEIDA, 2006).
Para favorecer espaços de brincar, é preciso ter clareza de que este é um direito da criança, e que se ela não tiver esse direito garantido, o tempo não poderá repor o que foi perdido. Precisamos respeitar e valorizar o brincar e proporcionar mais espaços que possibilitem as brincadeiras, a exploração com diversos materiais e, sempre que possível com outras crianças.
Para Vygotsky (1933/1998), o brincar é uma atividade necessária às demandas de maturação e desenvolvimento da criança. Todas as reações humanas mais importantes e radicais são criadas e elaboradas no processo da brincadeira infantil.
O livre brincar é uma atividade bastante desejável para o bom desenvolvimento da criança. O brincar não precisa de brinquedos estruturados, insubstituíveis e caros para sua execução. É livre de regras, imposições e estímulos intencionalmente educativos. Qualquer objeto que lhe capture a capacidade imaginativa e a espontaneidade é o suficiente para uma experiência extremamente enriquecedora e prazerosa.
É importante lembrar que o brinquedo nunca é apenas um brinquedo, mas carrega em si uma série de construção social e emocional, pois ensina à criança aquilo que a sociedade quer que ela seja e aprenda valores e regras. No fundo as crianças querem e precisam bem mais de momentos de qualidade com a família e os colegas, onde eles recebem atenção e amor, e a interação com o outro do que com o brinquedo. Assim como apontam Araujo, Almeida e Ferreira (1999, p. 72), a criança tem a necessidade de agir como vê os outros agirem, de agir como lhe ensinam ou como lhe dizem, mas também como imagina e simboliza o mundo adulto.
O brincar é algo essencial na vida da criança, ajuda a desenvolver vários estímulos e habilidades, e ajuda até na ideia de que perder faz parte da vida é um ensinamento importante que pode vir das brincadeiras. O brinquedo é um acessório que contribui para deixar estas brincadeiras mais interessantes e até mais educativas, mas não é o foco principal.
Muitas vezes, a criança não dá o devido valor à brincadeira em si porque não sabe brincar. Um dos motivos para isso são os vários compromissos estipulados pelos pais, falta tempo para as brincadeiras que são muito importantes para uma vida saudável.
Assim, os brinquedos perdem parte importante do seu significado. Ficam em suas caixas e não têm oportunidade de contribuir para o desenvolvimento da criança como poderiam. Os pais precisam deixar mais horas livres na agenda das crianças, para que elas aprendam a brincar e descobrir as brincadeiras e perceber que o brinquedo pode ser incluído no brincar, é importante ressaltar que os pais quando necessário podem brincar junto com seus filhos e deixar que ele descubra que a brincadeira livre é muito mais divertido do que o brinquedo. Na perspectiva de Vygotsky (1933/1998), o papel da mediação social no desenvolvimento é fundamental, uma vez que nós próprios nos desenvolvemos por meio do outro. Um “outro” que não significa, necessariamente, uma pessoa real, mas a dimensão social da atividade caracteristicamente humana.
O brincar quando não é utilizado os brinquedos prontos e comprados, ele favorece muito na criatividade e imaginação da criança, quando a criança consegue utiliza elementos que estão a sua volta ela usa as suas habilidades e inteligência para desenvolver a brincadeira. O brincar com liberdade, exerce um olhar lúdico sobre o mundo, a criança age com mais leveza deixando a criatividade fluir mais solta, o autor enfatiza que a criança é um ser lúdico, está sempre brincando, mas que a sua brincadeira tem um grande sentido prático, correspondendo, com exatidão, à sua idade e aos seus interesses, abrangendo elementos que conduzem à elaboração das necessárias habilidades e hábitos (Vygotsky, 2001).
Como uma Agente do Brincar, aprendi o significado do brincar livre, é quando uma criança realiza uma atividade em que ela está se divertindo, mas que a brincadeira não é direcionada por regras, que não tenha um objetivo para uma determinada intenção. A criança é deixada solta para explorar o momento, no ambiente em que ela está e no seu próprio tempo, e em suas condições para criar a brincadeira que ela quiser e de acordo com a sua criatividade e vontade. O que a criança precisa é apenas sua imaginação e a brincadeira se torna possível com este combustível.
No brincar livre há possibilidades de explorar espaço, o tempo e a liberdade para a criança poder expressar sua vontade, soltar a imaginação e poder criar. Precisamos entender que a menor interferência de objetos, regras e sugestões para guiar o brincar permite que a criança explore as suas potencialidades. Não podemos deixar de dizer que é claro que o brincar direcionado também tem a sua importância em ocasiões que a criança não conheça a brincadeira ou para ensiná-las algo diferente.
O brincar livre pode não ser automático para algumas crianças, pelo fato de serem acostumadas a receber instruções, orientações e brinquedos estruturados, elas podem se sentirem perdidas inicialmente, e a maior frequência em que a criança se encontrar nessa situação do brincar livre, ela vai se soltando e aprendendo a se permitir criar suas brincadeiras.
Por meio do brincar livre, exploratório, as crianças aprendem alguma coisa sobre situações, pessoas, atitudes e constrói significados para seu mundo interagindo com ele, para Vygotsky, à medida que a criança interage com o mundo social e histórico ocorre uma mudança no conteúdo subjetivo da atividade lúdica, revelando a dimensão dialética na construção do desenvolvimento e da identidade infantil, o que permite, afirmar que o brincar não evolui apenas em virtude das dimensões genética e de idades (Araújo, Almeida & Ferreira, 1999).
Com o brincar a criança passa também a descobrir sobre suas preferências, contribuindo para a formação de um cidadão crítico e consciente. O brincar desempenha um papel muito importante na vida da criança, permitindo-lhe aprender a partilhar, a cooperar, a comunicar e a se relacionar, desenvolvendo a noção de respeito por si e pelo próximo.
Através das brincadeiras, a criança tem a oportunidade de simular situações de conflitos da sua vida social e familiar, permitindo a expressar suas emoções. Brincar permite as crianças a encenarem seus medos, suas angústias e a sua agressividade, ajudando a resolver seus conflitos internos. As brincadeiras nas quais se ganha e se perde, permite que a criança possa começar a trabalhar a sua resistência à frustração. Aprender esse sentimento para a criança é essencial para seu equilíbrio emocional e para o desenvolvimento da sua personalidade. É exatamente o brincar que pode mostrar, com mais clareza, as transições do desenvolvimento. Entretanto, não se pode esquecer que o brincar está fortemente vinculado à cultura e a subjetividade da criança (Pereira, 2004).
No fundo a arte do brincar é deixar a criança a pensar, resolver problemas, falar, cooperar e movimentar-se.
As brincadeiras estão presentes na vida das crianças, com diferentes maneiras de brincar, e está presente em tempos e lugares, é recriada com o poder da imaginação e criação da criança. O brincar é natural na vida das crianças. É algo que faz parte do cotidiano e se define como prazeroso e sem compromisso. Crianças que brincam bastante tendem a serem mais felizes, realizadas e mais seguras. Essa segurança é desenvolvida com a vivência, de brincadeiras com outras pessoas, expondo suas vontades e descobrindo suas habilidades desde pequenos, e por outro lado crianças que não brincam estão expostas ao isolamento, timidez e mau humor constante. Valorizar os momentos de diversão e incentivar as brincadeiras das crianças é um caminho para viver.
Referências
KISHIMOTO, Tizuko Morchida. Jogos, Brinquedos, Brincadeira e a Educação. 8. ed. Cortez, 2011.
PEREIRA, Maria Ângela Camilo Marques, AMPARO, Deise Matos, ALMEIDA, Sandra Francisca Conte. O Brincar e suas Relações com o Desenvolvimento, Curitiba. V. 24, n. 45 p. 15-24, abr/jun. 2006.
GOMES, Lisandra Ogg, O cotidiano, as crianças, suas infâncias e a mídia: imagens concatenadas, Pro-Posições, v. 19, n. 3 (57) set./dez. 2008.
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