- Mina Regen -
Resolvi escrever este artigo ao ler o texto de Jéssica Silva Nunes Macedo sobre Lúdico e Aulas de Educação Física, publicado neste blog, onde a autora demonstra a importância dessa área no desenvolvimento neuropsicomotor e social de todas as crianças e adolescentes, preparando-os para a vida adulta.
Veio-me à memória os meus tempos de Assistente Social na APAE de São Paulo (hoje Instituto Jô Clemente) onde atuei de 1974 a 1988 e muito aprendi, sempre trabalhando em vários setores e com equipes multiprofissionais.
Trabalhei por vários anos no Setor de Estimulação Precoce dessa Instituição na década de 80, onde a maioria dos bebês que chegavam ao nosso Setor haviam nascido com esta síndrome, recebendo, inicialmente, atendimento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Pedagogia. Também eram oferecidos atendimentos grupal mensal para as mães ou cuidadoras (às vezes, as avós), ou individual, se necessário, no sentido de superarem seus sentimentos iniciais frente ao bebê diferente do esperado, ou para auxiliar em situações de conflitos familiares.
Não podemos nos esquecer que, naquela época, ainda não existiam exames pré-natais para detecção dessa anomalia no feto. Esses atendimentos grupais eram oferecidos por uma dupla de Psicólogas e Assistentes Sociais preparadas para lidar com as situações que surgiam no grupo, também auxiliadas pelas próprias participantes, numa troca de sentimentos e de apoio mútuo.
Quando as crianças adquiriam deambulação, a Coordenadora do Setor, a Pedagoga Maria Theresia Litgens, vinda da Holanda e precursora do trabalho com os pais e bebês no Ambulatório, criando posteriormente o Setor, considerou que seria importante criarmos um ambiente de Educação Física para melhorar as habilidades motoras das crianças. Para tanto, fizemos uma visita à Faculdade de Educação Física da Universidade de São Paulo – USP, no sentido de verificar se haveria interesse de algum formando se dedicar à área das deficiências.
Com o auxílio desses profissionais a sala de Educação Física foi criada e estes iniciaram o atendimento a pequenos grupos de crianças de 3 a 6 anos. Foi incrível observar o sucesso que a cada semestre as crianças obtinham, com fichas individuais de acompanhamento elaboradas por eles. Inventavam brincadeiras como andar sobre fitas coloridas coladas ao solo, ou sobre bancos onde eram auxiliados a subir, caminhar e no final, saltar, reforçando a musculatura das pernas e o equilíbrio; jogos de bola, lenço atrás e tantas outras.
Além disso, as mães passaram a ser incentivadas a levar seus filhos às praças em seus locais de moradia ou ao Parque do Ibirapuera, onde jogavam bola ou levavam seus filhos ao trepa-trepa, já que haviam presenciado como eles conseguiam escalar a escada vertical existente no Setor de Estimulação, além de outros obstáculos.
Lembro-me que em certo ano, no Dia do Índio, os professores de Educação Física, Bruno e José realizaram uma atividade em sua sala com de mães e filhos sentados no chão. As crianças, com pequenos cocares nas cabeças, colaram tiras verdes nos rostos de suas mães e cantaram uma canção infantil sobre os índios.
Anos depois tivemos a inserção de Terapeutas Ocupacionais na nossa equipe, em substituição às Pedagogas, em função da mudança da Coordenação do Setor.
Tenho a ressaltas que todos os profissionais do Setor de Estimulação realizavam seus atendimentos específicos, sempre fazendo uso de brincadeiras e/ou brinquedos, o que facilitava a cooperação das crianças durante as atividades propostas. As mães ou cuidadoras permaneciam nas salas, aprendendo como podiam auxiliar no desenvolvimento de suas crianças nas atividades do dia-a-dia em casa, seja na hora do banho, das refeições ou em situações externas, junto a grupos de crianças da vizinhança ou familiares.
Sempre tivemos em mente que pais/cuidadores e irmãos deveriam receber instrumentos e adquirir autoconfiança para que se sentissem seguros ao lidar com seus membros com síndrome de Down em toda e qualquer situação.
Propiciando-lhes um ambiente mais equilibrado e confortável para toda a família, sempre visando a sua independência e emancipação. Quando assumi a Coordenação do Setor, convidei a equipe a elaborar um Guia de Orientação a Pais para distribuição àqueles que, por dificuldades de tempo ou de recursos, não conseguiam comparecer aos atendimentos presenciais.
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