- Priscila Leonel -
O ato de brincar é fundamental no desenvolvimento humano. Brincar no dicionário Aurélio está relacionado à diversão, a entretenimento infantil, gracejos e até atos levianos e de pouca consideração. Diferente desses significados ou indo além, a brincadeira na infância não é uma mera distração, é um instrumento essencial para o desenvolvimento cognitivo, para a aprendizagem, onde os sinais, a fala e atitudes denotam afetividade e as mais diversas emoções.
É na infância que descobrimos coisas novas, entrando em contato com o mundo e os indivíduos que nos cercam. O brincar, nas suas mais diversas formas e modalidades, ampara o desenvolvimento infantil de modo a auxiliar à criança na inserção enquanto sujeito social e se integrar nas realidades do “mundo adulto”, fazendo com que a criança crie, participem e tomem parte das realidades que a cerca, como brincadeira de “faz-de-conta”.Está intimamente ligada ao símbolo, uma vez que por meio dele, a criança representa ações, pessoas ou objetos, pois estes trazem como temática para essa brincadeira o seu cotidiano (contexto familiar e escolar). (Piaget, p.76)
Embora, as brincadeiras, muitas vezes reproduzam de algum modo à realidade ou imitam o cotidiano adulto, como profissões e tarefas domésticas, elas podem e devem envolver uma dose de imaginação. O brincar de casinha, de policia- e- ladrão, por exemplo, está sujeito as normas estabelecidas pela criança, que recria e adapta essas situações para o “seu mundo”, onde a casa pode ser mágica, e a policia é amiga do bandido. Da mesma forma que a função pré-estabelecida de alguns brinquedos, podem vir a ser modificados, transformando, por exemplo, um carro em foguete.
O modo na qual os pequenos utilizam os brinquedos pode desviar-se, portanto das normas convencionais, já que a criança visa antes da cópia fiel das atividades adultas, construir e recriar um mundo onde seu espaço esteja garantido. Segundo Vygotsky (1998) a concepção de uma situação imaginária não é algo casual na vida da criança; é na verdade a primeira manifestação da emancipação da criança em relação ao que ele chama de restrições situacionais. (VYGOTSKY, 1998, p. 130)
As brincadeiras não se atêm apenas ao faz-de-conta e podem ocorrer entorno de assuntos fictícios, contos e personagens, mas que nunca são puramente imaginativos, já que o brincar é fruto também do meio social da qual se está inserido. Assim, independente do quão “longe vá à imaginação”, ela sempre conterá traços dos processos vividos pela criança, núcleo familiar e social: o super- herói pode gostar de determinada comida, hobbies, cores e ter determinados comportamentos que estão associados aos gostos da própria criança ou ao que ela costuma vivenciar. De modo que não podemos dissociar a brincadeira da vivencia particular do sujeito que a prática:
“Nenhuma criança brinca só para passar o tempo, sua escolha é motivada por processos íntimos, desejos, problemas, ansiedades. O que está acontecendo com a mente da criança determina suas atividades lúdicas; brincar é sua linguagem secreta, que devemos respeitar mesmo se não a entendemos.”
(GARDNEI apud FERREIRA; MISSE; BONADIO, 2004)
O brincar instiga a criança em várias dimensões, principalmente no cunho comportamental, psicológico e físico, ensinando regras de convivência, aumenta a dose de criatividade, auxiliando no desenvolvimento do individuo e na aprendizagem.
O papel do adulto é mediar e oferecer as oportunidades de vivências nestes espaços improváveis, mas principalmente observar essa perspectiva brincante da cidade através dos olhos infantis, já que as crianças também compõe um grupo específico que produz e reproduz questões sociais, repetem e ressignificam a cultura (CORSARO, 2011). O brincar é comunicação, expressão e movimento, além de ser um direito da criança é fundamental para seu desenvolvimento tanto cognitivo como ético, sendo esse cada vez maior de acordo com os desafios superados e oportunidades oferecidas.
Uma vez que estas experiências lúdicas estejam latentes no corpo e na memória de cada adulto educador, estarão então, munidos de um novo estado de percepção que os momentos proporcionam, formar-se-á um grupo de multiplicadores e formadores de opinião que crie espaços de discussão acerca da importância e da aplicabilidade de tais práticas brincantes nos mais diversos ambientes e por meio das mais diferentes ferramentas.
O adulto, que brinca será mais um na luta por um futuro melhor, garantindo hoje um desenvolvimento mais saudável da criança através de seu trabalho, das suas pesquisas, do seu posicionamento na sociedade e político e da disseminação do conhecimento , com foco na formação de indivíduos melhores e, de uma sociedade mais saudável. É um facilitador que, com conhecimento e competência, cria oportunidade para que as crianças brinquem livremente.
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