- Vanessa Nunes -
A cineasta Renata Meirelles em parceria com o Instituto Alana, junto com escolas documentou várias formas do brincar, no documentário Territórios do Brincar. Dentre estes relatos, foi comentado sobre observar o brincar das crianças quando elas eram conduzidas e as brincadeiras eram mediadas e o brincar livre das crianças, onde elas criavam suas próprias brincadeiras e o quanto elas interagiam bem mais do que quando os adultos as conduzia nas brincadeiras.
Desta forma, a cineasta e educadora, viajou o Brasil em busca destas brincadeiras, e com estas vivências foi possível observar que adultos que brincaram mais em sua infância e que não sofreram alguma interferência nesta fase, são bem mais instruídos, do que adultos que trabalharam em sua infância ou que nem sabem brincadeiras que alguns da mesma época sabem.
Quando este artigo foi proposto, na hora foi pensado no título, até porque a relação com o meu brincar e a formação do indivíduo, pois o brincar não é só para crianças, mas é para todos.
A relação do Brincar para os adultos remete em algumas reflexões que nem sempre são boas, mas que ao brincar e se relacionar com outros adultos, isto fica produtivo, e o brincar, desperta muitas sensações que precisamos para lidar no dia a dia, seja no trabalho ou em qualquer ambiente social.
Vivemos em uma sociedade que passamos a vida inteira sendo julgados ou apontados por padrões que um grupo determina ou que sempre comentamos, o que a mídia acha ser bonito, é o certo. No documentário da BBC, sobre a infância de um adulto que se tornou um terrorista, eles observam que, o tempo todo em sua vida, ele tentou pertencer á um grupo, e para que fosse aceito ele precisava aceitar todas as provocações á seu fenótipo. Com o passar do tempo, ele se tornou um adolescente isolado, e que nestes momentos encontrou pessoas que se aproveitam desta fragilidade e induziu ele ao mundo do matar, a caminhos que o levaram a ficar preso por um bom tempo. Quando ele saiu da cadeia, como todo egresso, não conseguia trabalho, até que, um judeu empregou ele, mesmo sabendo que ele ficou preso por crime de intolerância. A partir deste momento ele abriu os olhos e começou a ajudar quem estava passando por alguma situação como a que ele passou. Casos como este da vida real, faz uma reflexão, e permeia diante do título deste livro, será que o brincar pode intervir em casos como o citado?
Uma especialista e educadora, que fez pesquisa de campo com o brincar de crianças na Colômbia, que muitas vezes são separadas de suas famílias para servir e trabalhar no tráfico de drogas. No seu livro, Yolanda Reyes, retrata relatos do brincar de dois meninos que de forma lúdica contam sobre a violência que sofreram e o que viveram ao ver o amigo que fugiu dos traficantes e foi morto assim que foi capturado. Estas crianças crescem ao lado destes campos de guerra, e encontram conforto em brincadeiras, ou se lembramos, do diário de Anne Frank, que retratava sua vida neste diário, mesmo sendo pré-adolescente, ela viveu sua infância com seus familiares e relembra alguns destes momentos no diário que é seu refúgio diante de tanta tragédia.
Estas interferências afetam diretamente no crescimento do adulto, que cria como se fossem barreiras que o impedem de fazer isso ou aquilo, ou dependendo os índices de suicídio em todo mundo, vem aumentando justamente por causa que as pessoas não se aceitam, ou porque são discriminadas por alguns. O brincar precisa e deve acontecer em qualquer local, até porque as crianças mesmo nos casos como hospitais, elas estão em sua fase de brincar e o fato do ambiente em que vivem, vai influenciar até o ponto em que seus responsáveis permitir que aquela situação afete o caráter desta criança e transforme em adolescente ou adulto revoltado.
Quando pensamos o que utilizar para brincar, buscamos sempre o produto pronto, que está na prateleira, e o porque de não se utilizar aquilo que era considerado lixo, sem finalidade.
A cultura regional de algumas cidades brasileiras ainda consegue manter viva suas raízes, e passam a construção de bonecos de madeira, cerâmica e o artesanato para as futuras gerações, o que afeta diretamente a cultura de um povo local, que em alguns casos sobrevive do que vendem.
Atualmente vivemos o tempo todo sendo cobrado para executar diversas coisas ao mesmo tempo e acabamos se esquecendo de nós mesmos, que precisamos ás vezes, sair da zona de conforto e começar a pensar, o que quero para minha vida, ou porque não começo desde já á planejar a saúde, através de atividades com o brincar? Foi comprovado, uma criança que brica, se torna um adulto mais centrado, com menos problemas de saúde, um deles a obesidade, que se a criança não tem relação com outras, ela caba ficando só na frente de tabletes ou televisores. Não tem a relação das brincadeiras em grupo ou do sujar os pés e as mãos com terra.
Outro fator importante que interfere a relação do indivíduo na fase adulta, são as crianças consideradas do século XXI, que estão cheia de obrigações, para ocupar todo o seu tempo com qualificações, aprendizados, todas aquelas coisas, que sempre ouvimos dos pais, que irá dar tudo que não teve aos seus filhos, vários cursos, esportes, ocupar todo o tempo com atividades dirigidas, sem ter aquele momento do brincar do jeito que quiser, e aí acontece que quando chega na fase adolescente, este não quer saber de nada, nem mesmo estudar, porque passou a infância que é o espaço dele, de criar e inovar, estudando, praticando esportes, que algumas vezes ele nem se identifica.
Referências
Fonte: tv cultura, documentário extremismo da bbc-relato sobre bulling e infância,,,10/11/2019-19h
Livro da exposição Brinquedos á mão, coleção Sálua Chequer, realizada no espaço Caixa Cultural, São Paulo, nos dias 11 de Outubro á 07 de Dezembro de 2014.
Livro Palavra de Criança, coisas que você pode aprender com sua criança interior, Patrícia Gebrim,
Livro Ler e brincar, tecer e cantar, Yolanda Reyes, editora pulo do gato.
Livro, Os doze trabalhos de Hércules, Monteiro Lobato, editora brasiliense,
Documentário, Territórios do Brincar, https://territoriodobrincar.com.br/videos/documentario-territorio-do-brincar-dialogos-com-escolas/
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