- Tamara de Assis Lima Lourenço -
O brincar na Educação Infantil deve ser levado a sério, pela equipe gestora, professores e pais/responsáveis. Além de ser um direito da criança, constituiu-se numa ferramenta facilitadora para a aprendizagem integral da criança. Nossas crianças podem brincar entre crianças da mesma faixa etária ou de faixas etárias diferentes, com adultos como: pai, mãe, avó, avô, tios ou com qualquer pessoa do seu convívio social. Essas interações promovem a construção da identidade infantil e favorecem o desenvolvimento.
A cada dia que passa nossas crianças tem ficado mais tempo em unidades de ensino. O que os documentos norteadores da Educação Infantil falam sobre o brincar? De que forma podemos brincar nesses ambientes? Como o brincar pode favorecer um desenvolvimento integral e saudável?
Durante o período que exerci o cargo de professora em uma Instituição de Educação Infantil não compreendia o brincar e nem tinha conhecimento sobre a sua importância no processo do desenvolvimento infantil. Aplicava as brincadeiras como forma de passar o tempo quando não tinha outra atividade programada .Eu enxergava a brincadeira como um prêmio para o bom comportamento e como um momento para entreter as crianças enquanto eu realizava outras tarefas como, relatórios e organizava outras coisas na sala. Com o tempo fui chamada para compor a equipe gestora nessa mesma instituição. Então vi a necessidade de me aprofundar em alguns temas .O brincar foi um deles, minha concepção sobre o brincar mudou e comecei a ter um novo olhar para o brincar na Educação Infantil. Comecei a observar mais as professoras e pude concluir que as brincadeiras e o ato de brincar estava inserido nesse ambiente, mas não da forma que deveria estar.
O brincar era para o momento de distração ou somente liberado na hora do parque, faltava tempo, espaço e materiais para a promoção do brincar. Gerando ansiedade e agitação nas crianças. Reuniões e cursos realizados na Diretoria de Ensino me auxiliaram muito. Documentos norteadores foram criados e outros incluíram o brincar , trazendo base para uma Educação Infantil voltada para a criança e o brincar.
Mesmo com tantas pesquisas e estudiosos que falam sobre o brincar e nos traz riquíssimas aprendizagens ,ainda falta muito para que as escolas ofereçam um brincar de qualidade para as nossas crianças. O Referencial Curricular para a Educação Infantil entende a brincadeira como uma linguagem infantil. Na brincadeira as crianças assumem papeis e ressignificam experiências vividas no seu cotidiano.
No ato de brincar os sinais, os gestos, os objetos e os espaços valem e significam outra coisa daquilo que aparentam ser. Ao brincar as crianças recriam e repensam os acontecimentos que lhe deram origem (RCNEI 1988, pág 27)
Já nas Diretrizes Curriculares o direito a brincadeira entra como objetivo da proposta pedagógica das instituições de educação infantil. Tendo assim as interações e as brincadeiras como eixos estruturantes das práticas pedagógicas.
A Base Nacional Comum Curricular coloca o brincar como um dos seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento. Todos esses documentos compreendem que o brincar deve fazer parte da vida das crianças dento das Unidades de Ensino. Estabelecendo assim condições para um desenvolvimento físico, intelectual, emocional e social.
As Unidades de Educação Infantil devem propiciar às crianças momentos de interação, seja com crianças, adultos ou materialidades. Oferecendo a possibilidade de um brincar rico e prazeroso. O Currículo da Cidade revela a brincadeira como diferentes ações das crianças que envolve o lúdico. Toda rotina escolar pode ser transformada numa brincadeira, todo ambiente escolar deve ser pensado e estruturado para o brincar. Referente aos espaços, o Currículo da Cidade nos revela:
Em quais espaços e durante quanto tempo os bebês e crianças brincam? Em todos os espaços e com o que eles contêm. Por isso é importante oferecer às crianças ocasiões para explorar e experimenta diferentes possibilidades e modos de interpretar os espaços, os mobiliários e os materiais. (2019,pág 97)
Sendo assim, o ambiente escolar pode oferecer as crianças diversas experiências e diferentes tipos de brincar/brincadeira. Temos brincadeiras de movimento, tradicionais, as que envolvem fala, faz de conta e as que envolvem papéis sociais.
Quando falamos sobre o desenvolvimento integral da criança, colocamos em pauta os aspectos: físico-motor, intelectual, afetivo-emocional e social. A brincadeira tem o poder de englobar todos esses aspectos. Tornando-se um veículo que leva a criança ao desenvolvimento. O ato de brincar cria vínculos afetivos, produz troca de experiências, leva a criança a pensar, imaginar, recriar, a conhecer o seu corpo, a desenvolver linguagens, a expressar sentimentos, aguça os 5 sentidos, coloca a cultura local em evidência e por fim traz alegria e esperança. Não tem como não pensar no brincar como um meio de viver a vida de forma saudável e feliz. Voltando um pouco a falar sobre o criança e a escola, nos tempos atuais, as crianças têm frequentado cada vez mais cedo as escolas e o tempo de permanência tem aumentado. Deixando uma responsabilidade muito grande sobre os ombros dos educadores.
Cabe a nós apresentarmos o brincar e seus benefícios para as crianças, pais/responsáveis. Sabendo que para um desenvolvimento saudável é necessário um brincar de qualidade. Segundo o Manual de Orientação Pedagógica: Brinquedos e brincadeiras de creches. A introdução de brinquedos e brincadeiras na creche depende de condições prévias como :aceitação do brincar como direito da criança; compreensão da importância de brincar para a criança, vista como um ser que precisa de atenção, carinho, que tem iniciativas, saberes, interesses e necessidades; criação de ambientes educativos especialmente planejado que ofereçam oportunidades de qualidade para brincadeiras e interações e desenvolvimento da dimensão brincalhona da professora.
Conclusão
Levando-se em conta o que foi mencionado, entendemos que o brincar/brincadeira é citado nos documentos norteadores para a Educação Infantil e é compreendido como direito da criança e deve ser praticado em todos os ambientes das Unidades. Mas compreendemos que a escola deve se esforçar para que o brincar seja praticado e entendido por todos como fundamental para a vida das crianças. O brincar também é necessário entre pais ,filhos ,familiares, enfim, todos devem brincar. Para tanto não basta só compreender os benefícios, é preciso tempo, espaço e materiais que vão auxiliar num brincar de qualidade. É necessário que essas unidades estimulem e dê acesso as brincadeiras, pois elas oferecem o desenvolvimento integral da criança.
Bibliografia
São Paulo. Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Currículo da Cidade: Educação Infantil. São Paulo: SME / COPED, 2019.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília,1998.
BRASIL. Ministério da Educação. CNE/CEB. Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil. Brasília, 2009.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular Brasília, 2019.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Brinquedos e brincadeiras de creches: manual de orientação pedagógica. Brasília. MEC/SEB,2012.
Quando a criança brinca, ela cria uma situação imaginária, sendo esta uma característica definidora do brinquedo em geral. Nesta situação imaginária, ao assumir um papel a criança inicialmente imita o comportamento do adulto tal como ele observa em seu contexto