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O protagonismo dos avôs e avós na formação das crianças.

O brincar intergeracional


- Marilena Flores Martins -



“Os dois melhores presentes que podemos dar aos nossos filhos: um são raízes o outro são asas.” Khalil Gilbran



Em uma sociedade, com mudanças culturais intensas e rápidas, podemos observar o impacto nos padrões de comportamento das famílias, com diferentes formatos e tamanhos, em relação às gerações anteriores. Nas famílias atuais a criança, muitas vezes, não tem irmãos ou amigos com quem brincar, e as mães e pais preocupados com a sua carreira profissional, passam um tempo menor com o filho, deixando-o aos cuidados de babás e/ou avós. Em famílias menos favorecidas é constante a presença de avós que acabam substituindo os pais na educação, socialização e sustento das crianças. Idosos também têm uma contribuição importante em outros aspectos da vida familiar. Além da ajuda financeira, as mulheres idosas tendem a se manter no seu papel tradicional de cuidadoras da família, promovendo uma significativa mudança nos laços intergeracionais.

Realizada pelo IBGE (2000), pesquisa aponta que, no Brasil, mais da metade dos idosos são os responsáveis pelo sustento dos filhos e ajudam a criar os netos. A co-residência de várias gerações é uma nova forma de arranjo familiar e reforça a ideia de que experiências e valores, bem como suporte financeiro e emocional, estão sendo compartilhados entre várias gerações, destacando-se aí as relações entre netos e avós. Este fato pode constituir importante elemento de valorização do idoso na sociedade. Por outro lado, as descobertas da ciência salientam que o desenvolvimento das competências cerebrais está diretamente relacionado ao tipo de ambiente pós-natal e social onde se insere a criança. Crianças se incluem no mundo, cedo, por vínculos criados com seus cuidadores que satisfazem suas necessidades, da alimentação ao afeto/reconhecimento.


No que se refere às condições ambientais, a interação adulto-criança e a convivência propiciada em ambientes afetivos, inclusivos e lúdicos contribuem decisivamente para o pleno crescimento do potencial infantil. A sintonia entre os seres humanos se inicia com a ligação do bebê com o seu cuidador, incluindo as primeiras trocas de sorrisos e as primeiras brincadeiras. Experiências continuadas de privação e desamparo pode ser a origem de sérios distúrbios de desenvolvimento. A relação positiva da criança com seus cuidadores é fator decisivo no desenvolvimento do apego, refletindo na sua qualidade de vida, reduzindo riscos de comportamentos agressivos persistentes na primeira infância e desvios de comportamento na adolescência e fase adulta.

O enriquecimento do ambiente, que inclui o fortalecimento de vínculos afetivos e sociais, principalmente na faixa etária de zero aos seis anos, influencia diretamente no processo de desenvolvimento da criança podendo-se dizer que são fundamentais nessa fase: a estimulação humana, o tipo dos vínculos afetivos existentes e a atmosfera emocional adequada, que, dentre outras, desenvolvem a comunicação verbal e a linguagem, fatores importantes para o fortalecimento das competências sócio emocionais, o aprendizado, e para o controle adequado dos impulsos. Convivendo com os avós, as crianças têm oportunidade de desenvolver e fortalecer vínculos afetivos positivos, bem como vivenciar valores como: bondade, honestidade, esperança e alegria em fazer bem feito. Conviver e brincar juntos contribuirá para que as crianças descubram a si mesmas e ao mundo, além de propiciar o surgimento de habilidades e competências fundamentais, e desenvolver áreas do cérebro responsáveis pelo sentimento de empatia, tão importante em um mundo cada vez mais diversificado.

Nesse sentido, de que forma o brincar pode contribuir para a relação dos idosos com as crianças?

Para os avós, brincar com os netos ajuda a esquecer de que o tempo passou, e a tomar consciência das suas limitações, com a sabedoria que a idade lhes deu, contribuindo para encontrar a melhor maneira de serem avós.Não podemos esquecer que as crianças lêem os nossos gestos e expressões, e copiam o nosso exemplo. A fórmula do brincar que funciona para os adultos é diferente do que a que serve para as crianças. O brincar pode ser encontrado nas atividades prazerosas, que não tenham ônus, que não envolvam cobrança de resultados. Pode ser um jogo, um trabalho manual ou uma conversa com os amigos. São ­­todas as formas de brincar. De acordo com Richard Layard (2005), pesquisador da London School of Economics, no Reino Unido: “Evidências mostram que as coisas que mais importam para nossa felicidade e infelicidade são nossas relações sociais e nossa saúde física e mental". O principal fator para prevermos a satisfação de uma pessoa com sua vida adulta é sua saúde emocional durante a infância.­



Neste contexto, a atuação dos avôs e avós, criando oportunidades de brincar para e com os seus netos e netas, assume uma importância ainda maior, pois construindo brinquedos ou conhecendo as brincadeiras tradicionais, as crianças aprendem sobre suas raízes, desenvolvem a criatividade, lidam com as emoções e desenvolvem habilidades sociais, psicomotoras e cognitivas. Os jogos tradicionais de diferentes culturas, transmitidos através de inúmeras gerações para as crianças de hoje, servem como uma oportunidade para assegurar o seu direito de brincar, e ainda para ensinar-lhes grande parte da sabedoria acumulada por seus ancestrais.

Eles têm ainda outros valores positivos. Por exemplo, a maioria dos jogos exige atividades físicas, de modo que o problema da obesidade infantil pode ser evitado. A socialização com outras pessoas vai melhorar se o jogo for jogado por, pelo menos, duas crianças. Além disso, em um jogo de grupo, elas também precisam determinar uma estratégia, se comunicar e colaborar com os membros da equipe.Os benefícios são de caráter emocional e social, além de fortalecer as raizes familiares e o autoconhecimento das crianças. As brincadeiras tradicionais trazem mais alegria para a vida das crianças!

Todos nós temos um compromisso com as crianças, para que elas sejam felizes e brinquem livremente. As crianças precisam brincar, faz parte do crescimento. Necessitam de diferentes oportunidades de fazê-lo, em diferentes maneiras. As brincadeiras são ainda uma excelente oportunidade para pais, avós e crianças desenvolverem laços de afetividade e companheirismo. As brincadeiras variam de acordo com o momento e a idade das crianças, mas o mais importante é que os adultos estejam dispostos a compartilhar o seu tempo e a sua energia com elas, desde a idade mais precoce.


Ouvir as crianças e os idosos para que expressem seus anseios e pontos de vista sobre esses espaços torna-se uma estratégia importante para que haja uma construção coletiva e democrática e que a oferta atenda aos interesses e necessidades das crianças e idosos ouvidos. Entendemos que as famílias devem brincar juntas e que brincadeiras e jogos não são somente para as crianças. O mais importante é que pais, avós, netas e netos, de todos os níveis socioeconômicos, acreditem que o caminho para melhorar a vida das crianças é fazê-las felizes. Brincar com as crianças pode realmente ser prazeroso para toda a família! Ao brincar e conviver com pessoas de diferentes idades, capacidades e culturas as crianças aprendem a aceitar as diferenças e desenvolvem a aceitação e o respeito pelo outro, condições indispensáveis para a construção da Paz.




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