- Bianca Freitas Leme -
“Não se trata de uma regressão irresistível à vida infantil
quando o adulto se vê tomado por um tal ímpeto para brincar.
Sem dúvida, brincar significa sempre libertação.” Walter Benjamin
O brincar é uma ação mais natural e comum do comportamento humano, principalmente, ao longo da infância. É por meio do brincar que se torna possível a criança se expressar e explorar o mundo ao seu redor. Para tanto, é importante observar algumas diferenças entre criança e infância. Segundo Carneiro e Dodge (2008), em síntese, a palavra criança associa-se a ideia de uma etapa do desenvolvimento humano, ela se diferencia do adulto, não havendo nenhuma preocupação com o seu comportamento, com a sua cultura ou, até mesmo, com o seu papel dentro da sociedade. Já o conceito de infância está associado hoje dentro de um contexto cultural, social, político e econômico, ou seja, implica o lugar em que a criança está inserida na sociedade.
De acordo com o documento estabelecido na Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança (artigo 31) e no Estatuto da Criança e do Adolescente do Brasil (artigos 40 e 16), o brincar é reconhecido como um dos direitos fundamentais de todas as crianças, pois se trata de uma linguagem essencial para o seu desenvolvimento. Neste sentido, toda criança deve ser vista como cidadã e ter o direito de brincar e viver a infância. Pois mesmo sendo pequena e vulnerável, ela é um ser que tem saberes, interesses e necessidades e, acima de tudo, ela é um ser que precisa de amor, carinho e atenção.
Brincar é movimento, liberdade, cultura, emoção e diversão. Deve ser visto como uma atividade prazerosa e espontânea, que favorece diversas aprendizagens e que contribui para que a criança se desenvolva de forma cognitiva, afetiva e social. Desta maneira, quando a criança brinca ela aprende a se expressar, a socializar, a imaginar, a fantasiar, a criar; a explorar, a cooperar, a respeitar os outros e a si mesmo, a enfrentar riscos e desafios, a lidar com frustrações, a fazer o uso do sensorial e do movimento, a expressar seus sentimentos e emoções, a ouvir e compartilhar histórias. Além disso, o brincar também incentiva a curiosidade, a autoconfiança, a concentração, a autonomia, e contribui para a construção de novos conhecimentos e aprimora o seu repertório.
Seguindo este ponto de vista, na obra publicada pelo Ministério da Educação (2013), é salientado que: O brincar ou a brincadeira - é atividade principal da criança. Sua importância reside no fato de ser uma ação livre, iniciada e conduzida pela criança com a finalidade de tomar decisões, expressar sentimentos e valores, conhecer a si mesma, os outros e o mundo em que vive. Brincar é repetir e recriar ações prazerosas, expressar situações imaginárias, criativas, compartilhar brincadeiras com outras pessoas, expressar sua individualidade e sua identidade, explorar a natureza, os objetos, comunicar-se, e participar da cultura lúdica para compreender seu universo. (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2013, p. 10)
Com base na citação acima, observa-se que através da cultura lúdica, as crianças têm a possibilidade de vivenciar múltiplas experiências mesmo que simbólicas, uma vez que o imaginário é a ferramenta primordial para dialogar com a alma da criança. É no imaginário que prevalece o encanto da fantasia. Na brincadeira do “faz de conta”, por exemplo, a criança vive a realidade que a cerca no momento, assim, o brincar faz dela a protagonista de suas ações.
Por sua vez, nota-se que as atividades lúdicas não têm como objetivo apenas o de proporcionar o bem-estar e divertimento, mas também são fundamentais para o aprendizado. Junto a tais reflexões, surgem novas perspectivas acerca do brincar. É possível observar que em muitos lugares o brincar se torna uma atividade dirigida, que para poder brincar é preciso obter algum conhecimento imediato, ou seja, não é respeitado o direito de brincar da criança pelo simples prazer de brincar.
Outro aspecto alarmante é o “tempo limitado” que é dado para a criança brincar, pois cada vez mais se observa o impulso de inserir atividades e tarefas em sua rotina diária. Para que as crianças possam se desenvolver de maneira saudável, é preciso respeitar o seu tempo, principalmente o seu tempo de brincar. As autoras Jensen e Amarante (2017) ressaltam que: No mundo infantil não deveria caber a palavra “pressa”. Leva-se tempo para crescer, para construir um corpo saudável que sirva de base física para todo um desenvolvimento anímico espiritual posterior. Para isso temos a infância, que deveria ser permeada pelo: brincar; desenhar livremente; natureza – terra-água-areia; correr- balançar – pular corda; atividades caseiras para a criança imitar; ritmo saudável; bom sono; boa alimentação; espaços amplos; etc. (JENSEN; AMARANTE, 2017).
Nesta perspectiva, pontuam-se algumas questões, sendo elas: como podemos proporcionar às crianças o acesso espontâneo e livre do brincar? Como podemos ser facilitadores do brincar? Como proporcionar tempo, espaço e o ambiente de brincar?
Ser Agentes do Brincar e ajudar as crianças brincarem pelo prazer do brincar, não com outro propósito ou agenda, e que o brincar pode acontecer além dos muros da escola.
No convívio familiar, por exemplo, cabe aos pais tornar o brincar parte integrante da rotina diária das crianças, oferecendo oportunidades delas brincarem, porém, respeitando as escolhas de brincadeiras das crianças, individuais ou em grupo. Além disso, o brincar constrói e fortalece vínculos afetivos, afasta a tristeza e promove a alegria.
Referências
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Brinquedos e brincadeiras de creches: manual de orientação pedagógica. Brasília: MEC/SEB, 2012.
CARNEIRO, Maria Angela Barbato; DODGE, Janine J. A descoberta do brincar. São Paulo: Melhoramentos, 2008.
JENSEN, Silvia; AMARANTE, Maria Chantal. O brincar infantil. Disponível em: <http://www.antroposofy.com.br/forum/download/artigos/O brincar infantil.pdf>. Acesso em: 9 jun. 2017.
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