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SER PRESENÇA E ESCUTA DIANTE DAS CRIANÇAS

  • Foto do escritor: IPA Brasil
    IPA Brasil
  • 18 de dez. de 2020
  • 3 min de leitura

- Renata Laurentino ¹ -




Há algum tempo escuto sonhos, em diferentes lugares e contextos.

Adoro ouvir e realizar sonhos com as crianças e com suas comunidades.


Algumas vezes quando estou diante de um sonho infantil, tenho que fazer um esforço para acreditar que é possível realizar o que aquela criança está me contando com palavras e com todo o corpo. As crianças têm uma capacidade incrível de descrever o que elas imaginam.

Tenho dentro de mim, que tudo que imaginamos, existe em algum lugar, portanto, é possível de ser materializado. Ouvi esses dias de Lydia Hortélio ( Pesquisadora e educadora) , que quando estamos diante de uma criança, estamos diante do novo, do mais avançado… As crianças chegam para nos contar a novidade, apontam para o que desconhecemos, trazem consigo a inovação.



A presença e a escuta são tudo que podemos oferecer para quem está chegando nesse mundo, disse minha amiga, Emi Tanaka (escutadora de crianças) esses dias. Luísa Leme (arquiteta e observadora de crianças), me contou que ao receber as crianças que ela cuida, não tem nada preparado. Porque é seguindo o movimento dos corpos, e os olhares, que ela entende em que direção ela deve seguir no encontro.



Adriana Friedmann (educadora e antropóloga) não cansa de dizer que agora “ É a vez e a voz das crianças". Nos últimos anos a humanidade abriu o centro do círculo para as crianças brincarem.


Parece tarefa simples, mas não tem sido. Estamos nos distraindo com coisas desimportantes, complicando, dificultando e nos enrolando na relação que temos com as crianças e com a gente mesmo.

Desconfio que se formos capazes de honrar e valorizar a presença das crianças em nossas vidas, respeitar seus tempos, seus processos de aprendizagem, ouvir seus corpos e suas vozes, teremos a oportunidade de reconstruímos nossa humanidade saudável.


Eu vim aqui contar sobre algo extraordinário que aconteceu comigo nos últimos meses, durante esse caos pandêmico. Eu tive tempo de escutar…


Escutei o céu, pude observar a dança das nuvens, vi o trânsito dos pássaros, observei o nascer e o pôr do sol, vi a diversidade de cores que esse movimento todo tem.



Escutei as plantas, percebi como elas reagem a cada período do dia, como bailam o tempo todo com o vento e com sol, como brotam e como se entregam de novo pra terra.


Escutei as pedras, senti suas temperaturas, seus desenhos, cores e formas.

Escutei as águas, nas bacias, nas tempestades, nas garoas, nos subsolos da casa e das ruas.





Escutei os gatos, cachorros, pássaros, insetos...


Tudo isso foi possível, porque eu estava acompanhada e me permiti ser guiada por uma bebe de 2 anos, que a todo tempo está em diálogo atento e simples com tudo que estava ao redor.


Minha filha e as crianças têm presença nas relações. Trazem consigo uma capacidade imensa de apreciar detalhes, invisíveis aos olhos de adultos distraídos com tudo e mais um pouco. Fico o tempo todo pensando quanta energia dedicamos a “distrair” as crianças, de preferência se essa distração deixá-las quietinhas para que possamos seguir fazendo o que quisermos, sem elas.


As crianças chegam no planeta convidando a gente para o simples, para a apreciação da natureza que somos, para olharmos a vida por outros ângulos, para o encontro genuíno.


Na utopia que me move, acredito que as crianças são nossos guias para nossas micro e macro transformações internas e externas.


Ao escrever isso, não estou querendo colocar nenhuma responsabilidade de transformação nas costas desses pequenos seres que acabaram de chegar. Não acho que o futuro seja as crianças, muito pelo contrário, elas são o Presente.


A responsabilidade é coletiva, somos nós seres mais vividos no planeta, que temos a oportunidade de abrirmos espaço e tempo para escutarmos, cuidarmos e estarmos uns com os outros.


Vamos precisar de coragem para desapegar de padrões que nos distanciam, e começar a desenhar cotidianos possíveis, que nos aproximam. Voltar a fazer escolhas para a integração, e não para a separação. Como diz aquele conhecido ditado africano :


É preciso uma aldeia inteira para cuidar de uma criança.


Se todas as pessoas adultas da nossa comunidade estiverem sendo cuidadas de forma integral, nossas crianças estarão. Que venha o novo ciclo, que possamos aprender e crescer guiados pelo cuidado comunitário


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¹ Renata Laurentino (@renatalaurentino) é arte-educadora, brincante, contadora de histórias e pesquisadora das Infâncias.


Nos últimos 8 anos trabalhou com o Instituto Elos e na Acupuntura Urbana, desenvolvendo e facilitando projetos com participação comunitária em diversas regiões do Brasil. Atualmente íntegra o coletivo "Nutrição para Imaginação" e o coletivo "A vez e a voz das crianças". E atua como consultora em escolas públicas e particulares com o objetivo de fortalecer a comunidade escolar através de ações e projetos realizados de forma coletiva.


 
 
 

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